Profissionais maduros se qualificam para enfrentar mercado de trabalho

Profissionais maduros se qualificam para enfrentar mercado de trabalho

acom-business-intelligence Nícolas Pasinato

O mercado de trabalho está mais maduro do que nunca. Muitas pessoas que têm direito à aposentadoria por tempo de serviço permanecem na ativa para não ter os proventos reduzidos pelo fator previdenciário. A fórmula do governo  diminui em até 40% o valor do benefício para quem já  tem direito de se aposentar e é considerado jovem demais para deixar de trabalhar. Mas é preciso se manter competitivo no mercado para enfrentar a concorrência. A saída é investir em capacitações para não transformar a extensa experiência em motivo de afastamento.

A ideia é dar um upgrade à vivência de anos de atuação, de forma que a empresa faça questão de seguir contando com esse aprendizado. Para isso, a primeira lição aos chamados profissionais seniores é continuar se aperfeiçoando. “Essas pessoas não podem parar de estudar e se capacitar. Mesmo que já tenham certo conhecimento sobre determinado assunto, é importante que ouçam o mesmo tema de uma outra forma”, sugere a vice-presidente de gestão e inovação da Associação Brasileira de Recursos Humanos no Rio Grande do Sul (ABRH-RS), Crismeri Corrêa.

É também indicado manter e fortalecer a rede de relacionamentos construída ao longo da carreira e buscar estar atualizado nos assuntos relacionados à sua área. É recomendado ainda participar de treinamentos que não envolvam o seu setor. Cursos de computação e de língua estrangeira são exemplos comuns procurados por esses trabalhadores.

Já para os profissionais seniores que se encontram fora de atividade, há inúmeras maneiras para serem reinseridos no mercado de trabalho. Entre elas estão a de prestação de consultoria a organizações, formação de pequenas empresas, participação de grupos de estudos e até mesmo uma contribuição para um blog na internet. “Atualmente, pode não haver muitas oportunidades de emprego a esse público, mas opção de trabalho é o que não falta”, analisa Crismeri.

No entanto, para a vice-presidente de gestão e inovação da ABRH-RS, continua havendo vagas de trabalho para esse profissional, desde que ele esteja atualizado e apto a trabalhar com diversidades.

Ao apresentar essas características, ele exerce até mesmo vantagens em relação aos empregados mais jovens. “Esses trabalhadores podem fazer conexões daquilo que já vivenciaram com os desafios que surgem no dia a dia e encontrar uma solução que uma pessoa mais jovem dificilmente alcançaria”, diz ela.

A troca de experiência entre profissionais mais jovens com mais velhos é algo que costuma gerar bons resultados para uma companhia, pois ambas a partes podem aprender. Os setores que costumam manter essa diversidade no quadro de funcionários são, geralmente, o da indústria, o da construção civil e a área acadêmica.

Consultoria é área a ser explorada pelos seniores

Mais da metade de sua vida, João Claudio Basso, 62 anos, passou atuando na Randon, empresa que trabalha com produtos para o transporte de cargas terrestres. Ao completar 60 anos e 35 de casa, teve de se aposentar em função de uma política interna que determina que essa seja a idade limite para um funcionário trabalhar na companhia. Mas esse acontecimento não fez com que Basso parasse de prestar serviço a sua antiga empresa. Há dois anos ele atua como consultor da Randon, dando suporte na logística de abastecimento dos seus produtos.

A consultoria é um serviço que se encaixa ao perfil dos profissionais seniores. A vasta experiência desses trabalhadores os capacita a ter um bom desempenho nessa área. Com o funcionário da Randon não foi diferente. Ele passou grande parte de sua carreira sendo coordenador de compras, o que o credenciou a seguir atuando nesse setor da companhia. “O conhecimento sobre o mercado e relacionamento que construí ao longo dos anos facilitam na busca de resoluções para os problemas da fábrica e, por isso, a empresa entendeu que eu poderia continuar agregando valor a ela”, analisa Basso.

O novo cargo veio acompanhado de algumas mudanças. Além de passar de um papel de liderança para o de facilitador de soluções e apoio aos gerentes, Basso teve a sua jornada de trabalho reduzida. No primeiro ano como consultor ele trabalhava quatro dias por semana e ao ter o seu contrato renovado por mais um ano baixou para três os dias em que teria de se deslocar até a Randon.

Esse procedimento faz parte do programa da organização chamado Novos Caminhos que tem como objetivo preparar os seus funcionários para a desvinculação da empresa. Ativo desde 2003, o projeto começa a orientar o empregado três anos antes da sua aposentadoria e segue o acompanhando cinco anos após o seu afastamento.

A preparação ocorre por meio de palestras que trazem assuntos como empreendedorismo, planejamento financeiro, investimentos, saúde física e mental, entre outros. A participação do programa é voluntária e pode envolver também a família do funcionário.

“O programa é uma excelente iniciativa. Trabalhar décadas em uma atividade e parar de um dia para o outro é um baque que é preciso estar preparado para enfrentar”, ressalta Basso. O consultor da Randon comemora a oportunidade oferecida de ir se afastando gradualmente da empresa e já realiza planejamentos e ações paralelas de novas atividades de trabalho. “Pretendo continuar atuando com representações comerciais. A ideia é seguir ativo, se isso me render recompensa econômica fico feliz, mas esse não é o principal objetivo”, relata ele.

Dominar uma língua estrangeira pode ser o diferencial

Com o mercado globalizado, aumenta a cobrança sobre empresários e funcionários de multinacionais em ter o domínio de uma ou mais língua estrangeira. Profissionais experientes costumam sofrer mais com essa exigência.

Isso ocorre porque a cultura de aprender um idioma diferente ter se firmou em tempos mais recentes. Para que não corram o risco de verem suas carreiras estacionadas, muitos deles buscam correr contra o tempo e buscar uma capacitação.

Flavio Goulart, 49 anos, trabalha há 35 anos no mercado financeiro. Atualmente, é gerente-executivo do banco holandês De Lage Landen no Brasil. Mirando a sua evolução profissional, iniciou um curso de inglês há quatro anos. “Como atuo em uma instituição com matriz fora do Brasil e com filiais por diversas partes do mundo, se torna importantíssimo ter domínio do inglês, a língua universal dos negócios”, afirma ele.

O menor tempo disponível para se dedicar aos estudos é uma questão a ser vencida. “O problema não está na capacidade intelectual desse público, mas na dificuldade em que enfrenta em compartilhar o aprendizado do inglês com compromissos profissionais, familiares, entre outros”, analisa Eduardo Santos, diretor da Instil, escola especializada em cursos de inglês e espanhol para o setor corporativo.

Apesar das adversidades, aumenta o número de pessoas que querem acrescentar uma língua estrangeira no currículo. Ao perceber essa demanda e verificar que era um público pouco explorado comercialmente, Santos resolveu abrir a Instil em 2003. A metodologia de ensino da escola acaba sendo diferenciada, em função do perfil dos alunos atendido por eles. O método usado é o comunicativo: ensina o estudante como afirmar, negar e perguntar em diferentes situações. “O adulto não se encaixa no modo do aprendizado usado para crianças e jovens que é baseado na diversão. É preciso contextualizar os conceitos e fazer com que coloque em prática o que vê em sala de aula”, afirma ele.

Pesquisa realizada pela empresa de recursos humanos Catho Online no ano passado revela que é pequena a parcela de trabalhadores brasileiros que domina o inglês. Ao entrevistarem cerca de 46 mil pessoas que ocupam os mais variados cargos e níveis, apenas 11% dos entrevistados afirmaram se comunicar sem dificuldade em inglês.

Adaptação passa pelo domínio de tecnologias e inovações que fazem parte da rotina das empresas

Norberto Artur Moller, 56 anos, atuou por quase duas décadas como técnico de informática na antiga CRT, empresa de telecomunicação. Desvinculou-se da companhia após ela ser privatizada, decidido a não trabalhar mais no mesmo setor. Em 2007, no entanto, decidiu fazer um curso de técnico em informática do Senac como forma de se reciclar. A iniciativa lhe rendeu não só conhecimentos sobre de que forma o desenvolvimento tecnológico alterou a computação no período em que ficou fora do setor, mas também um emprego como professor de cursos básicos de informática voltados para alunos da terceira idade e jovens aprendizes.

Com a tecnologia cada vez mais incorporada no meio profissional, cresce a necessidade de trabalhadores maduros se adaptarem a essas inovações presentes no cotidiano de uma empresa. Embora a formação de Moller seja ligada a computação, ele também teve dificuldades com os rápidos avanços de sua área, ainda mais por ter passado seis anos fora deste setor. “O mercado de informática evoluiu muito durante o período que fiquei parado. Com isso, novidades surgiram para mim na capacitação”, conta.

Muitos profissionais de cabelos grisalhos veem os desafios de compreender os avanços tecnológicos e a sua influência no ambiente de trabalho com receio, como se fosse algo inacessível a eles. Para quem pensa dessa forma a sugestão é vencer o medo e buscar se adaptar à nova realidade. “Se experimentarem uma capacitação, vão ter uma grata surpresa. Não precisa ser de uma geração mais nova para aprender sobre tecnologia”, aconselha Moller. Além de se qualificar para o mercado de trabalho, acabam sendo inseridos na própria sociedade. “Saber lidar com computação é uma forma de inclusão, já que permite a comunicação com filhos, parentes e amigos.”

Javier García López, 57 anos, não se intimidou com o rápido desenvolvimento das tecnologias e, a partir de 2008, foi atrás de treinamento para aprender um pouco mais sobre elas. Optou por realizar os cursos de Java e PHP, pois queria conhecer melhor o mundo da internet e como ocorre a criação de websites. “Não sou resistente às novas tecnologias, por isso procurei me adaptar às novas possibilidades”, afirma ele.

Para outros profissionais seniores, Lópes sugere que eles não tenham receio da mudança. “É normal do ser humano sentir medo do novo, mas é preciso ter em mente que as inovações tecnológicas foram criadas para facilitar nossa a vida e, portanto, é preciso estar preparado para saber lidar com elas e com outras mudanças que virão.”

Mandarim para todas as idades

A China vem obtendo crescimento econômico há 25 anos. Em 2011 registrou um incremento de 9,2% do PIB, se mantendo em 2° lugar no ranking das economias mundiais. Previsões de especialistas apontam que em quatro anos o país asiático passe a ser a maior potência econômica internacional, deixando para trás os Estados Unidos.

Com essa mudança de cenário, aumenta a procura de empresários e profissionais de todas as idades em aprender a língua da população que cada vez mais influencia o mundo dos negócios: o mandarim.

Mauro Nicóli, 49 anos, começou a avaliar o estudo de uma terceira língua em 1985, quando teve de recusar um convite para trabalhar na Alemanha por não saber o idioma do país, somente o inglês. Em 2005 iniciou o curso de mandarim, atitude que surpreendeu seus colegas de profissão. “Eles me perguntavam se estava louco”, relembra ele. O bordão “o mundo dá voltas” pode ser aplicado na vida de Nicóli, no momento em que recebeu um novo convite para atuar no exterior, o que provou também que estava certo em buscar decifrar os ideogramas chineses, há quase 30 anos.

Há aproximadamente um mês foi transferido para Yanzhou na China, onde é gerente de Qualidade da AGCO, empresa mundial fabricante e distribuidora de equipamentos agrícolas. Embora sua mudança seja recente, visitou anteriormente diversas vezes o país asiático. “Estive na China pela primeira vez em 2004. Foi amor à primeira vista. Em pouco tempo, pude perceber a cultura do país e os ideogramas me fascinaram”, recorda.

A grande admiração de Nicóli pela cultura milenar chinesa, porém, não fez diminuir as dificuldades de aprender a língua. O funcionário da AGCO confessa seguir com problemas em se comunicar por lá, especialmente no ambiente de trabalho, em que são usados muitos termos técnicos. A tarefa de saber os ideogramas, seus sons, significados e combinações não são das mais fáceis. “A maior dificuldade está em ouvir e entender o que os chineses falam. As palavras são monossilábicas, pronunciadas em quatro tons. Quando ouvimos o idioma é fácil confundir tons semelhantes, que dão significados totalmente diferentes ao que é dito. O mesmo acontece na fala. Um deslize no tom, e falamos o que não devemos”, explica.

Mas para quem tem algum tipo de interesse profissional com o país asiático, a recomendação é encarar o desafio. “A China é um mar de oportunidades. Se há a intenção de fazer negócios com chineses, é saudável aprender o mandarim para poder socializar com eles. Conseguir se comunicar pela sua língua faz muita diferença quando se quer construir relacionamentos”, afirma Nicóli.

A cada ano cresce o interesse de brasileiros pelo mandarim. A afirmação é comprovada pelo maior número de alunos nos cursos desse idioma. Na escola Kotaitai em Porto Alegre havia no ano passado duas turmas cursando o nível básico da língua, cada grupo com cerca 10 alunos. Em 2012, já são quatro turmas matriculadas no nível inicial. “No início a motivação dos estudantes era em conhecer a cultura chinesa. Agora a procura ocorre também em função das relações comerciais entre Brasil e China”, diz Jéssica Liu, uma das proprietárias da escola.

Segundo ela, a maior procura parte de universitários com idade entre 20 e 30 anos. Os mais velhos, porém, não ficam de fora dos interessados. Conforme Liu, a cada turma há pelo menos dois alunos com cerca de 50 anos.

fonte: http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=91704

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